segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

"Errâncias Urbanas - a arte de andar pelas cidades" ou...

... o ato de torná-la sensível ao corpo em movimento. A autora pontua que a errância urbana seriam gestos de participação, experiência efetiva e vivência dos espaços urbanos, segundo uma relação mais consciente entre o corpo físico do cidadão e o corpo urbano, num ato de apreensão da cidade. (p.19-20)

Isto posto, tem-se um modo (e um movimento) de apreensão da cidade praticado pelo ator consciente de seu ato: a cidade, pois, não é tomada apenas como cenário, mas como corpo.
Assim sendo, a cidade passa a ser (um) outro com o qual a relação se faz de modo mais intimista.



“O simples ato de andar pela cidade pode assim se tornar uma crítica ao urbanismo enquanto disciplina prática de intervenção nas cidades. Essa crítica pode ser vista tanto nos textos quanto nas imagens produzidas por artistas errantes a partir de suas experiências do andar pela cidade.” (p.20)

“O urbanismo enquanto campo disciplinar e prática profissional surge exatamente com o intuito de transformar as antigas cidades em metrópoles modernas, o que significava também transformar as antigas ruas de pedestres em grandes vias de circulação para automóveis, reduzindo as possibilidades da experiência física direta, através do andar das cidades.” (p.21)

Parto desta premissa para relacionar a minha vivência no espaço urbano onde tenho vivido (e vivenciado) nos últimos anos. Uma cidade histórica é corpo/cenário de um processo de transição: de uma aparente estati-cidade ao fluxo constante de pessoas e carros, decorrentes da urbanização acelerada. A implantação da universidade nesse contexto reconfigura não somente o meu modus operandi, enquanto ator-passageiro, transitório, como também a percepção espacial e relacional dos moradores da cidade com o fluxo de tantos outros atores.
Passo, pois, a investigar o espaço urbano, corporificado, anatômico e dinâmico, correlacionando-o ao meu próprio corpo, aqui entendido como mecanismo através do qual ajo no mundo. 



Como parte do processo de investigação artística, iniciado meses antes de dar início a pesquisa vigente, o videoarte "Transitoriedade (cidade)" fora criado para a disciplina Fotografia III, ministrada pela profª Valécia Ribeiro. Na ocasião, motivado pela poética do questionamento do olhar, produzi imagens que trouxessem o reflexo do processo de urbanização e deslocamentos visuais da paisagem da cidade histórica onde moro.
O resultado pode ser visto em: https://vimeo.com/77520174
O vídeo não se encerra em si: através da técnica de videomapping, as imagens produzidas seriam projetadas em silhuetas do meu próprio corpo, aludindo à diluição entre as fronteiras do corpo da cidade com o meu. Haverá ainda um tratamento no som, bem como uma curadoria para readaptar as imagens coletadas. Caminhando pelas ruas da cidade, o processo investigativo se deu através de observações e anotações pontuais sobre imagens refletidas, espelhos urbanos (e humanos), através dos quais busco retratar a efemeridade da existência, o fluxo constante do tempo e das pessoas ao vento.





A cidade anda pelo (meu) corpo.



JACQUES, Paola Berenstein. Errâncias Urbanas - a arte de andar pelas cidades. In: ARQTEXTO 7, Rio Grande do Sul, n.7, p. 16-25, 1º semestre de 2005. Disponível AQUI.